Ir às compras na Índia foi, de longe, o ponto alto da
viagem.
Cheguei ao meu principal fornecedor de tecidos no centro
velho de Nova Déli e fui recepcionado com um sorriso de orelha a orelha pelo
braço direito da loja da família Singh.
Mukunda é um típico gerente de loja têxtil cujos donos são
da casta Vaishna, do centro velho da capital. Conhece como ninguém os produtos
da loja, seu custo, preço de varejo, atacado (os produtos não são etiquetados)
e descontos concedidos a cada cliente. Disse que era a décima vez que eu
voltava na loja e me recordou que fazia um ano desde minha última pisada em
solo indiano. Computadores? Para quê?
Varun, seus irmãos e primos, todos de sobrenome Singh,
vieram me cumprimentar enquanto Mukunda correu para montar pilhas de capas de almofada para servir de assento e simultaneamente, ordenou a um dos
funcionários para buscar uma rodada de chai.
Tenho muita afinidade com todos. Somos da mesma faixa
etária, gostamos de esportes e somos comerciantes! Depois dos cumprimentos,
perguntas sobre família e negócios, chegou o tão esperado chai para abrir a
próxima etapa do encontro.
Expliquei os problemas com meu último pedido, apontei os
acertos e parti para as compras!
Orquestrados pelo Mukunda, os funcionários começaram a abrir
e estender as colchas, mostrando as estampas, desenhos e bordados. A cada pano
aberto, Varun enfatizava: “This is top seller!”.
Neste ritual, foram abertas mais de trezentas peças de
tecidos, entre elas: capas de almofadas em patchwork, colchas bordadas à mão,
panos vintage envelhecidos, bandos
com motivos Mughal e passadeiras étnicas. A quantidade e mistura de cores
enfeitiçavam o ambiente, mas até este ponto, eu só havia visto variações do que
já tinha comprado na última vez. Varun e Mukunda sabiam deste equilíbrio e
adiaram ao máximo a apresentação das melhores peças, o “filé”.
A negociação dos valores, quantidades e variações de cores,
a cada peça, elevaram as tensões e o Varun estrategicamente sugeriu uma pausa
para o almoço, curiosamente servido no chão do mesmo local. Os funcionários
traziam embalagens de alumínio com as porções de thali, prato local vegetariano
com muuuuuuito chili.
Segundo round!
O valor da minha compra já estava um pouco acima do meu budget quando o frenesi caleidoscópico
passou a ser composto de novidades e dos verdadeiros best-sellers. Não tinha como deixar de aumentar minha encomenda.
Estava consciente desta estratégia indiana. Apesar de ter
gasto mais do que o planejado, tinha certeza de que estava comprando produtos de ótima qualidade, de beleza étnica, preços honestos e de
pessoas que respeitavam os trabalhadores.
No Brasil, seria venda certa!